A
Educação no Brasil nas décadas de 1900 a 1960
Na
História da Educação brasileira discutida por Otázia Romanelli
substancialmente, pouca coisa se mudou na forma de encarar a educação. Em
períodos remotos podemos fazer um recorte temporal de toda ideologia que
impregnou e sustentou o sistema educacional no Brasil. Um dos pontos a serem
discutidos é a estrutura que se chocava com o contexto socío-cultural, que está
paralelamente atrelada a sua organização e as políticas deste período.
Desde
a segunda metade do século XIX, os países mais desenvolvidos vinham criando a
implantação definitiva da escola pública e gratuita para todos devido as fortes
mudanças econômicas que vinham ocorrendo nos países desenvolvidos. Essas
mudanças introduzidas pelo capitalismo industrial engendra a necessidade de
fornecer conhecimentos às camadas cada vez mais numerosas, ampliando dessa
forma a área social de atuação do capitalismo industrial. Daí a necessidade de
ter uma população proletarização ser um caminho para o desenvolvimento desse
sistema que serviria como pré-requisito para a concorrência no mercado de
trabalho.
Um
dos pontos a serem discutidos é como a economia evoluiu e interferiu na
evolução da organização do ensino, e como a herança cultural influiu sobre os
valores e as escolhas da população desse período que a escola passava a
oferecer e, de que forma estava organizado o poder que se relacionava com o
sistema de ensino, que operava na organização e estrutura desse sistema.
Considerando
que os padrões de educação da elite interessavam apenas as camadas emergentes,
o crescimento da demanda social de educação determinou a expansão de uma escola
que continuou a estruturar-se segundo moldes antigos. De acordo com as
afirmações de Romanelli, “a demanda social, ao acompanhar a expansão escolar,
não vinha a propor modelos novos de educação”. (ROMANELLI1977. P. 56). Essas
mudanças se apresentar como predominantemente de forma quantitativas pelo fato
de terem sido atendidas pelo fator demanda.
Enquanto
isso, o setor da pesquisa continuou sem função social definida, existindo uma
dissociação entre ensino e pesquisa. Com isso, a estrutura escolar não sofreu
alterações capazes de significar uma mudança qualitativa e quantitativa na
oferta da educação. Embora o capitalismo industrial tenha crescido e
incentivado a busca pelo ensino, criou-se uma situação de contradição com o
velho sistema latifundiário, que persistiu em reter sua própria cultura e
valores preconizando a ignorância das massas.
Podemos
lembrar que entre 1911 a 1915 vigorou a “Reforma Rivadávia”, que afastou da
União à responsabilidade pelo ensino, chegando até ocasionar um retrocesso na
evolução do sistema , em virtude de facultar total liberdade e autonomia aos
estabelecimentos e suprir o caráter oficial do ensino. As décadas de 1920 e 1930 viram surgir o “Escolanovismo”,
de iniciativa de liberais democráticos, os quais empreenderam reformas
educacionais em diversos estados. Já em 1924 foi fundada a Associação
Brasileira de Educação. Na reforma Rocha Vaz, em 1925, teve o mérito de
estabelecer, pela primeira vez, um acordo entre União e Estado com o fim de
promover a educação primaria, eliminar os exames preparatórios e parcelados. Todavia
foi apenas uma tentativa de realizar uma transformação no sistema de ensino.
Na
primeira República aconteceram varias reformas, mas todas sem êxito para a
solução dos problemas educacionais mais graves. A reforma de Benjamim Constant
foi a mais ampla, não chegou a ser colocada em prática. Mas alguns aspectos
tentou-se como a substituição do currículo acadêmico por currículo
enciclopédico, com inclusão de disciplinas cientificas, consagrou o ensino
seriado, deu maior organicidade ao sistema todo, atingindo as escolas
primárias, as escolas normais, as secundárias, além do ensino superior,
artístico. Outras reformas surgiram a essa, mas não acarretaram nenhuma mudança
ao sistema.
Para
que essas reformas pudessem ser executadas precisaríamos de uma infraestrutura
institucional que assegurasse a implantação, o apoio político das elites. Mas para acontecer de fato seria preciso
provocar uma renovação intelectual das elites culturais e políticas,
necessárias às novas instituições democráticas.
No
Brasil até o final da década de 1920 o ensino estava organizado de forma
fragmentária, considerando um modelo proposto de educação com o objetivo de
servirem aos interesses e valores das camadas dominantes. Como afirma Romanelli
: fato é que “o toque aristocrático e o caráter de classe que essa educação
conferia não só concorriam para manter o status, pela natureza distância social
que ajudava a promover, como também serviam de instrumento de ascensão social
aos estratos que, embora privados da propriedade de terra, se achavam em
condições de assumir posições mais elevadas.” (ROMANELLI 1977, p. 30).
Nesse
período evidenciamos a hipertrofia do executivo que ditou as regras da política
educacional, de acordo com o modelo que se pretendia adotar nos setores. Daí a predominância
dos interesses tornou-se responsável por duas formas de controle da expansão do
ensino. O controle quantitativo que acabou criando uma estrutura de ensino
rígida, seletiva e discriminante, e o controle qualitativo que acabou
favorecendo a expansão do ensino do tipo acadêmico e prejudicando a expansão do
ensino técnico. Isso significou que o sistema educacional foi acentuadamente
dualista em que o ensino primário estava vinculado às escolas profissionais
para os pobres, e, de outro, o ensino secundário articulado ao ensino superior
para os ricos.
É
bem verdade, ressaltar que a ausência de interesses pela formação técnica pode
ser apontada à influência de outros fatores, entre os quais, a herança cultural
que resultou da cultura letrada baseada em modelos da Europa. No entanto,
podemos apontar aspectos positivos da expansão do ensino, que promoveu a queda
de índices de analfabetismo e aumentou as oportunidades de educação. Todavia, criaram-se
novas oportunidades de marginalização devido ao progresso educacional que não
foi planejado para atender as exigências do mercado capitalista industrial no
Brasil.
Com
o surgimento de uma nova economia proveniente da industrialização, o êxodo
rural aumentou e as cidades necessitavam de uma educação que preparasse a
população para a nova realidade da economia que surgia nos grandes centros
industriais. Dessa forma, a educação seria a maior responsável para preparar os
trabalhadores para o mercado de trabalho. O Estado deveria se encarregar de
oferecer o ensino de maneira pública, gratuita, universal para que pudéssemos
atender as necessidades do capitalismo, que significou novas exigências
educacionais.
Segundo
Romanelli, “a forma como se instalou o regime republicano no Brasil e como se
conduziram no poder as elites, em nada modificando a estrutura socioeconômica,
influiu para que, de um lado, não houvesse pressão de demanda social de
educação e, de outro, não se ampliasse a oferta, nem se registrasse real
interesse pela educação pública, universal e gratuita”. (ROMANELLI 1977, p.
60).
A
educação escolas nesses diferentes períodos passou a ser organizado de forma
que pudesse refletir as contradições próprias de um sistema politico responsável
pela forma tradicional de controle do poder do que pela criação de formas novas.
Isso significa em termos, a continuação dos antagonismos em torno da
centralização e descentralização do poder que acabou gerando uma desorganização
completa na construção do sistema educacional brasileiro.
Na
década de 1930, o ensino começou a expandir-se fortemente devido aos
acontecimentos econômicos que estava ocorrendo que sinalizava um desafio para a
educação. Uma das causas apontadas está atrelada ao crescimento da demanda
social da educação que resultou em dois pontos cruciais expostos que são: o
crescimento demográfico e a intensificação do processo de urbanização. Esses
pontos são importantes para podermos compreender a evolução dessa demanda, que
aos poucos nos esclarecem num dado momento e define a defasagem do ensino que
não ocorreu de forma satisfatória e suficientemente organizada, ocasionada por
contradições políticas entre várias camadas dominantes na estrutura do poder.
é um trabalho que requer muitas leituras, mas é importante para todos os profissionais da educação.
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